23 agosto 2011 - Publicada por Catarina Fernandes à(s) 22:06

Hoje parei para pensar, entre os meus lençóis tudo parecia tão pouco inquietante e de nada inspirador, senti novamente a necessidade de escrever para mim.

Apercebi-me que o acto de escrita pode ser considerado um acto de egoísmo complacente, uma espécie de segredo partilhado, uma antítese que me é necessária.

Catarina Fernandes

Publicada por Catarina Fernandes à(s) 21:54



"Às vezes é preciso aprender a perder, a ouvir e não responder, a falar sem nada dizer, a esconder o que mais queremos mostrar, a dar sem receber, sem cobrar, sem reclamar. Às vezes é preciso respirar fundo e esperar que o tempo nos indique o momento certo para falar e então alinhar as ideias, usar a cabeça e esquecer o coração, dizer tudo o que se tem para dizer, não ter medo de dizer não, não esquecer nenhuma ideia, nenhum pormenor, deixar tudo bem claro em cima da mesa para que não restem dúvidas e não duvidar nunca daquilo que estamos a fazer.

E mesmo que a voz trema por dentro, há que fazê-la sair firme e serena, e mesmo que se oiça o coração bater desordeiramente fora do peito é preciso domá-lo, acalmá-lo, ordenar-lhe que bata mais devagar e faça menos alarido, e esperar, esperar que ele obedeça, que se esqueça, apagar-lhe a memória, o desejo, a saudade, a vontade.

Às vezes, é preciso partir antes do tempo, dizer: aquilo que mais se teme dizer, arrumar a casa e a cabeça, limpar a alma e prepará-la para um futuro incerto, acreditar que esse futuro é bom e afinal já está perto, apertar as mãos uma contra a outra e rezar a um Deus qualquer que nos dê força e serenidade. Pensar que o tempo está a nosso favor, que a vontade de mudar é sempre mais forte, que o destino e as circunstâncias se encarregarão de atenuar a nossa dor e de a transformar numa recordação ténue e fechada num passado sem retorno que teve o seu tempo e a sua época e que um dia também teve o seu fim.

Às vezes mais vale desistir do que insistir, esquecer do que querer, arrumar do que cultivar, anular do que desejar. No ar ficará para sempre a dúvida se fizémos bem, mas pelo menos temos a paz de ter feito aquilo que devia ser feito. Somos outra vez donos da nossa vida e tudo é outra vez mais fácil, mais simples, mais leve, melhor.

Às vezes é preciso mudar o que parece não ter solução, deitar tudo a baixo para voltar a construir do zero, bater com a porta e apanhar o último comboio no derradeiro momento e sem olhar para trás, abrir a janela e jogar tudo borda-fora, queimar cartas e fotografias, esquecer a voz e o cheiro, as mãos e a cor da pele, apagar a memória sem medo de a perder para sempre, esquecer tudo, cada momento, cada minuto, cada passo e cada palavra, cada promessa e cada desilusão, atirar com tudo para dentro de uma gaveta e deitar a chave fora, ou então pedir a alguém que guarde tudo num cofre e que a seguir esqueça o segredo.

Às vezes é preciso saber renunciar, não aceitar, não cooperar, não ouvir nem contemporizar, não pedir nem dar, não aceitar sem participar, sair pela porta da frente sem a fechar, pedir silêncio, paz e sossego, sem dor, sem tristeza e sem medo de partir. E partir para outro mundo, para outro lugar, mesmo quando o que mais queremos é ficar, permanecer, construir, investir, amar.

Porque quem parte é quem sabe para onde vai, quem escolhe o seu caminho e mesmo que não haja caminho porque o caminho se faz a andar, o sol, o vento, o céu e o cheiro do mar são os nossos guias, a única companhia, a certeza que fizemos bem e que não podia ser de outra maneira. Quem fica, fica a ver, a pensar, a meditar, a lembrar. Até se conformar e um dia então esquecer."

Texto de: Margarida Rebelo Pinto

Publicada por Catarina Fernandes à(s) 03:39

" A igreja já assinala a meia noite, e la estava eu na hora e local marcado,na verdade nem sei porque me meti nisto, nem sequer bom moço de recados era. Mas eles sabiam que eu não queria a coca para nada, pagavam-me e eu desaparecia como já tinha feito anteriormente.As malas estavam já prontas, queria despachar aquilo, chama-lhe adrenalina se quiseres, fumei um três cigarros um maço. ate que enfim eles chegaram, todos de preto de cara baixa como se transportassem os seus carrascos as costas. Então levei a mão ao bolso.. E ela tinha desaparecido mãe..." ( excerto de um conto)

Catarina Fernandes


03 agosto 2011 - Publicada por Catarina Fernandes à(s) 21:42

"(...) verdade é que eu tinha um medo enorme de encurtar as pequenas distâncias que me faziam correr para ti, sou um bicho instável, receio tanto o abandono como o sufoco. Bolinei com palavras sinuosas. Tu em silêncio dorido, eu sentindo-o como acusador. Fechados, cada um em sua concha, paranóicos e mal amados. Dissemos adeus com um pretexto ignóbil que não recordo, mas foi o silêncio ressentido a liquidar-nos. A solidão. Outras mulheres, ignorantes do pano de fundo sobre o qual se moviam; inocentes. O sexo mecânico. A culpa por nem culpa sentir, apenas uma saudade imensa da tua silhueta na porta, "fecho a janela"? Será isso o amor?"

Miguel Esteves Cardoso

Publicada por Catarina Fernandes à(s) 21:36

Revolta-te

Desligas-te do mundo
no teu quarto
Permaneces mudo, revoltado.
Mais uns quantos pontapés
para mostrar desagrado.

Respira fundo
conta ate dez
e vê se te deixas de merdas
que a vida vale bem mais
do que esses valores que elevas

abre os olhos e repara
que a vida e mesmo assim
e não chores por ela
que ela não chora por ti

Catarina Fernandes
( Desculpem a rima forçada, ronda o ano 2006)

Publicada por Catarina Fernandes à(s) 02:30

Num momento em que a vida se torna numa rotina insaciável de desilusões, esquece tudo!
Da-me a tua mão e vamos juntos, flutuando como pássaros em céu azul, vamos descobrir as loucas e tolas mentiras da terra do abandono
Vamos só nos que acreditamos e nos conseguimos ver nos olhos ambos sobre a silenciosa paisagem lunar.
Surgem subtis emoções de almas contraditórias, pressentimentos talvez, o desejo do momento eterno.
A chuva que cai persiste e nem assim o tal rosto de sorriso perfeito parece desaparecer.
Ou serão apenas os meus olhos a ressentir a distancia?
As humanas vozes não nos tocam nem tão pouco me perco nos olhares alheios, perco-me mais nos sentimentos que nos chocam, de um nos que não existe
É sempre um bom sonho, seja o que for.

Catarina Fernandes